Por Cilotér Borges Iribarrem
É possível manter empresas familiares com sucesso por muitas gerações?
Embora não seja fácil, é possível sim. O desafio inicial para o sucessor é conviver sob a sombra de uma pessoa forte, nesse caso dos pais, fundadores da empresa. Se assim não fosse, dificilmente haveria algo para suceder. Além disso, também tem as comparações entre pais e filhos, existentes desde o nascimento. A própria família se encarrega disso ao comentar coisas como: “tem os olhos do pai”, “o sorriso é da mãe”…
Empresa familiar, portanto, é o somatório dos elementos racionais e irracionais em uma convivência baseada em emoções e na manutenção da empresa. Tudo que transmitimos aos nossos filhos, como amor, carinho e exemplos, convivem, muitas vezes, lado a lado com a eficiência da empresa, que precisa de uma gestão competente à frente dos negócios.
Saber separar e, ao mesmo tempo, integrar família e empresa é um dos grandes desafios dos empresários rurais brasileiros. A empresa rural familiar ainda tem uma gestão individualizada, muito personalizada, onde os pais tomam as decisões sozinhos, embora a segunda geração, representada por seus filhos, já atuem na mesma empresa e no mesmo negócio.
A família é igual a um jardim, onde a sombra que protege e ajuda a crescer as plantas, também prejudica caso se estenda muito e não permita a entrada do sol. Da mesma forma os pais, que ao protegerem demais os filhos, podem acabar criando vícios que, no futuro, prejudicarão o desenvolvimento pessoal e profissional dos mesmos.
A personalidade forte dos pais somada ao individualismo na administração pode atrasar a implantação de um novo modelo de gestão, resultando em desagregação da família, devido aos atritos familiares e, automaticamente, na desestruturação do negócio. Os pais precisam enxergar que o tempo passou e os filhos cresceram e que para manter a relação de amor entre as gerações associada a um crescimento sólido do negócio, o poder de gerir a empresa não pode ficar somente com parte da família.
Para superar o grande desafio de harmonizar as relações entre família, patrimônio e negócio, as decisões precisam ser tomadas em conjunto. Assim como existem diversas técnicas disponíveis para obter êxito na produção de soja, milho, algodão, arroz, etc, também existem ferramentas para trabalhar a criação de holdings familiares específicas para o meio rural, através da implantação de uma gestão coorporativa.
Com a implantação das holdings familiares, é criada uma nova sociedade familiar, onde pais e filhos participam da nova organização do negócio familiar. Com a criação das holdings familiares ficam estabelecidas algumas regras, como:
– Entrada e saída de familiares do negócio;
– Regras para a venda de participações;
– Direitos e obrigações dos sócios;
– Remunerações;
– Retiradas de lucros;
– Tomadas de decisões;
– Comunicações das decisões;
– Transferência de patrimônio;
– Formas de exploração do negócio.
Paralelo à implantação das holdings familiares, são criados protocolos familiares, onde são registrados todos os valores familiares e empresariais que deverão ser seguidos pela família.
O protocolo familiar é o resultado de um processo de debates e de um consenso familiar, que vai além da regulação das relações família X empresa, visto que busca também assegurar uma boa convivência dos sócios.
Para que seja criada corretamente a holding familiar, implantada a gestão coorporativa e formulado o protocolo familiar é importante elaborar diagnósticos do patrimônio, da área fiscal e da composição da família, onde todas as relações existentes entre família, patrimônio e negócio são analisadas.
A Safras & Cifras tem executado junto aos empresários rurais familiares, ao longo dos anos, todas as fases da implantação deste novo modelo de empresa e de negócio. Os resultados obtidos são altamente satisfatórios:
– Permite uma relação harmoniosa entre a família;
– Permite a continuidade do negócio familiar por mais de uma geração;
– Permite o crescimento econômico e financeiro da empresa;
– Estabelece uma relação comercial entre pais, filhos e netos;
– Permite que as novas gerações conheçam o negócio da família mais cedo e, com
isso, possam tomar decisões com relação as suas carreiras profissionais;
– Permite estabelecer formas de participação ou não dos cônjuges no negócio familiar;
– Tranquiliza os pais com relação ao processo de sucessão;
– Permite preparar a sucessão do patrimônio em vida, com custos e atritos muito menores;
– Faz com que a propriedade tenha controles e rotinas administrativas, melhorando a eficiência da gestão;
– Estimula o crescimento do negócio, o que é extremamente importante para o aumento da escala de produção;
– Vence o desafio de transformar a família numa família empresária;
– Permite reduzir a carga tributária da empresa e do negócio.
Os empresários rurais brasileiros precisam entender que assim como se modernizou a agricultura brasileira, através do uso de novas máquinas, equipamentos, sementes, defensivos, fertilizantes, etc., a gestão fora da área de produção também tem que ser modernizada, no que se refere às sociedades de pais e filhos e as áreas, fiscal, tributária, fundiária e ambiental, pois só assim suas empresas conseguirão ser exitosas em um mercado extremamente dinâmico e competitivo.
Agindo assim, boas perspectivas serão projetadas para as novas gerações, que são a continuidade da vida dos pais. Sem família, a vida e os negócios têm pouco ou nenhum sentido, pois são os filhos e netos que darão continuidade ao que foi construído com tanta dedicação e carinho.
Cilotér Borges Iribarrem
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Consultor em governança e sucessão familiar em empresas rurais