Gestão de riscos econômicos nas Empresas Rurais Familiares

Em um cenário de grande competitividade, alto custo e instabilidade de mercado, tratar a propriedade como uma empresa deixou de ser uma opção e passou a ser uma necessidade. Como está o seu controle de custos? Como está a saúde financeira do seu negócio?

Analisando a evolução do custo de produção destes últimos anos, associado às oscilações do mercado de commodities e grande variação da cotação do dólar frente ao real, a Gestão Econômica e Financeira se torna ainda mais desafiadora.

Não será foco aqui falar sobre ferramentas de proteção de preço, estratégias de comercialização, ou ainda, como os preços das commodities são formados. Nosso objetivo é aquilo que, em nossa ótica, está sob controle do gestor e que pode ser um dos fatores determinantes na hora da comercialização: qual o custo de produção e o resultado projetado.

Pois bem, existem ferramentas que nos possibilitam monitorar o nosso custo de produção e receitas a medida com que a atividade agropecuária é executada, e, consequentemente prever o resultado de determinada atividade, servindo de subsídio para tomada de decisões, inclusive quanto a comercialização dos grãos..

Por mais óbvio que sejam as vantagens em se gerenciar um negócio de uma maneira mais profissionalizada, com base em dados e em metas a serem alcançadas, ainda existem inúmeras empresas rurais familiares que não utilizam estas ferramentas.

Em termos efetivos o que isso quer dizer? Vejamos a seguir exemplos práticos de informações que só obtemos quando implantadas ferramentas eficientes para a Gestão Econômica e Financeira do negócio.

Veja:

Na safra 2018/2019, a média do custo desembolsado de produtores do Centro Oeste com a Lavoura de Soja foi de 26 sacos/hectare com insumos – fertilizantes, defensivos e sementes – e 14 sacos/hectare com as operações – mão-de-obra, óleo diesel, manutenções, etc..

Na prática, frequentemente nos deparamos com análises onde parte dos custos de operação estão sendo desprezados e quando analisamos esses números, fica nítida a sua importância, já que no exemplo em questão representam 35% do desembolso total. Com base nesses números é possível verificar que para cobrir o custo desembolsado é necessário atingir 40 sacos/hectare de produtividade, sendo este o ponto de equilíbrio para a Lavoura de Soja na safra 2018/2019, conforme média de um conjunto de clientes da região Centro Oeste do Brasil. Lembrando que estes valores não incluem arrendamento, depreciações e remuneração de capital, ou seja, foram considerados apenas os desembolsos para a execução da atividade.

Pois bem, temos os dados da Safra 2018/2019 que estão no passado e não podem ser modificados, no entanto, temos o futuro pela frente e o que deve ser planejado. Portanto, sem saber o desembolso da sua atividade, fica difícil saber qual o seu ponto de equilíbrio e definir qual o melhor pacote de insumos.

Nesta safra, analisando o caso de alguns produtores da região Centro Oeste, repara-se que o custo do pacote de insumos sofre um aumento que varia dos 5 aos 8% para aqueles que fizeram suas compras não utilizando trocas. Já para aqueles que realizaram trocas, este número varia de 15 a 23% quando comparado com a safra 2018/2019.

Com base nestas informações, para a safra 2019/2020 o pacote de insumos sofreu aumento que varia de 2 a 7 sacos/hectare na média, mesmo com os preços médios de comercialização de soja mais elevados.

E para a sua empresa, quais os seus indicadores?

O objetivo é que este exemplo possa servir de maneira global para todas atividades de exploração agropecuária, em que possamos avaliar a capacidade de geração de resultado das atividades com base nos seus desembolsos.

Vejamos ainda o caso da alavancagem financeira de determinada empresa onde 75% do desembolso é oriundo de capital de terceiros. Qual é o custo financeiro e o risco econômico desta empresa quando comparada a uma que está com uma alavancagem de 14%? É possível compará-las com base na saúde financeira, mesmo que executem atividades de exploração distintas, podendo ainda determinar seus riscos associados.

E como devo tratar a gestão de investimentos?

Os investimentos realizados em determinado ano não devem ser inseridos no custo desembolsado das atividades, já irão trazer benefícios por mais de um ciclo produtivo. Neste sentido, após apurado o resultado do negócio com base no seu custo desembolsado, cabe uma análise do uso deste resultado para investimentos e distribuição de lucros à família. Com esta análise, conseguimos avaliar se os investimentos realizados estão acima ou abaixo da depreciação média prevista para cada atividade, assim como avaliar a capacidade da empresa de fazer novos investimentos.

Nossa experiência de 30 anos atendendo empresas rurais nos dá a certeza de que o controle gerencial da atividade rural deve ser simples e eficiente. Simples, pois o custo e tempo de execução do mesmo não pode inviabilizar sua implantação. Eficiente para que os benefícios de sua implantação tragam resultados imediatos, sejam resultados econômicos e financeiros, por meio de indicadores para a tomada de decisão, ou mesmo mecanismos que proporcionem transparência para preservação das sociedades familiares.

O mundo está mudando numa velocidade cada vez maior e o setor agropecuário também, então é preciso adaptar-se às mudanças, e para isso são necessárias atitudes e foco no que está em nosso alcance. Agro sem gestão já não é mais negócio.

Luciano Alegre
Consultor Safras & Cifras

Compartilhe este conteúdo

Posts relacionados

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso site. Para mais informações, visite nossa Política de Privacidade.

Abrir conversa
1
Olá👋
Como podemos ajudar?