Por Camila dos Santos Oliveira
A partir da safra 2014/15 surgiu uma nuvem de insegurança para o produtor rural, pois com ela veio também o aumento nos juros sobre os financiamentos, além de aumentos nas taxas de energia elétrica, diesel, assim como em outros custos.
Os aumentos nas taxas impactaram diretamente no custo de produção da lavoura e, os produtores que necessitam de capital de terceiros para financiar o custeio da lavoura ou investir em maquinários e benfeitorias, encontraram um custo maior no capital financiado.
Com o aumento dos custos de produção, a margem entre custo por saco e preço de venda fica mais apertada, cabendo ao produtor gerenciar os seus recursos de forma mais eficiente.
Energia Elétrica
As atividades de irrigação e secagem são as que mais sofrem impactos com o aumento das tarifas de energia elétrica e os sistemas de bandeiras tarifárias.
Desde a última safra, é possível analisar uma elevação no custo da energia elétrica, que afeta toda uma cadeia produtiva na qual o produtor acaba arcando com as despesas e consequentemente reduzindo a sua lucratividade.
De Acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE em novembro/2015, o aumento do último ano na energia elétrica em algumas regiões do Rio Grande do Sul ficou em 53,22%.
Hoje, a bandeira vermelha acarreta em um acréscimo de R$ 4,50 a cada 100 KW. A partir de fevereiro de 2016, como outro patamar de cobrança, além dos R$ 4,50 a bandeira vermelha acarretará no valor de R$ 3,00 a cada 100 KWh em condições menos custosas de geração de energia. E, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a região Sul tem apresentado bandeira tarifária vermelha desde fevereiro de 2014, com exceção do mês de julho de 2014, quando a região foi a única que ficou com bandeira amarela (tarifa de R$ 1,50 por KWh, a partir de fevereiro de 2016).
Diesel
A alta no preço do diesel veio para penalizar o produtor duas vezes. O impacto reflete tanto no uso do diesel nos maquinários, quanto para elevar o custo do frete, principalmente nas regiões mais afastadas, que sofrem com a precária situação logística brasileira.
Na safra 2014/15, a média dos clientes assistidos pela Safras & Cifras ficou com o custo dos combustíveis representando 7,8% do custo total de produção nas áreas de arroz irrigado e 7,3% nas áreas de soja. O aumento do litro de diesel demonstra um significativo impacto no custo de produção. Já os fornecedores de insumos, que são a ponta da cadeia, sentiram uma queda das vendas na safra 2015/16.
Juros sobre Financiamentos
Os juros sobre financiamentos tornaram-se outro vilão das lavouras a partir da safra 2015/16. Os juros sobre recursos de custeio passaram de 6,5% a.a. para 8,75% a.a. para grandes produtores e para médio produtores os juros passaram para 7,5% a.a.
Somado a esse fator tem o aumento das barreiras para concessão do crédito, devido ao grau de incerteza que o mercado se encontra. Apesar do aumento da liberação de crédito de R$ 156,1 bilhões para R$ 187,7 bilhões, estima-se que, devido à elevação dos custos de produção, ao final da safra 2015/16 a cobertura dos custos que serão financiados será menor.
Além disso, é necessário ressaltar que R$ 94,5 bilhões liberados para custeio da lavoura e comercialização da safra foram entregues a juros controlados, ou seja, fora desse montante. Já os juros sobre financiamentos chegam a valores bem mais altos que os 8,5% a.a., custo esse que refletirá diretamente no fluxo de caixa para as próximas safras.
Gestão de Custos
Nesse cenário de incertezas em que se encontra o país, surge a importância do conhecimento do próprio negócio. Algumas perguntas, como por exemplo, o que fazer para controlar os custos, onde enxugar, dividir ou não os lucros, fazer reservas, precisam de respostas e devem ser analisadas através da gestão do negócio.
A gestão pode aparecer de diferentes formas e uso de ferramentas, onde a mais abrangente, que aborda os desembolsos de forma mais ampla, é o Fluxo de Caixa. Nele, o produtor enxerga de forma geral o saldo mês a mês, contabilizando as entradas e saídas conforme a movimentação financeira da propriedade.
O presente artigo visa elucidar alguns fatores de aumento no custo da energia elétrica, diesel e juros sobre financiamentos, porém existem outros custos que estão interferindo muito no setor agropecuário, como o aumento da mão de obra, do preço de fertilizantes e perdas devido às más condições da malha rodoviária.
Como o produtor não consegue influenciar nos preços de venda, acarreta margens de lucratividade cada vez mais estreitas, cabendo ao gerenciamento de custos uma aliada para o enfrentamento da situação preocupante que a economia se encontra.
Camila dos Santos Oliveira
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Graduada em Engenharia Agronômica
Graduanda em Processos Gerenciais